Cultura-Afro-Brasileira Plano de Aula Para Todas as Séries

 


Oi, professor(a)! Tudo bem com você? Professora Camila aqui. Hoje vamos falar sobre como montar um planejamento de aula sobre a cultura afro-brasileira — e fazer isso com base na BNCC, sem transformar a lei em algo difícil ou distante da prática em sala.

Eu sei que esse tema gera muitas dúvidas. A Lei 10.639/03 exige que a história e cultura afro-brasileira sejam ensinadas ao longo do ano letivo, mas, na prática, o que a gente mais vê são ações isoladas no mês de novembro. E isso, sinceramente, não é o suficiente.

Talvez você até já tenha tentado planejar uma aula sobre o tema, mas ficou inseguro(a) sobre como abordar os conteúdos sem cair em generalizações ou estereótipos.

 Ou então, ficou na dúvida sobre onde essa temática entra dentro da BNCC, como alinhar às habilidades e quais recursos usar.

Eu entendo — porque eu também já passei por isso. A boa notícia é que não precisa ser complicado. 

Neste texto, eu vou te mostrar, com clareza, como faço esse planejamento com base nos documentos oficiais e na realidade da sala de aula. Você vai ver que é possível trabalhar esse conteúdo com sentido, intencionalidade e respeito. Vamos começar!

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Por que planejar aulas sobre cultura afro-brasileira o ano todo?

A Lei 10.639/03 determina que as escolas devem incluir no currículo o ensino da história e cultura afro-brasileira. 

Mas isso não quer dizer apenas montar uma atividade no 20 de novembro. Essa abordagem pontual pode até parecer que resolve, mas, no fundo, ela só reforça a ideia de que a cultura africana é algo à parte do que se ensina normalmente.

Na minha prática, eu optei por fazer diferente. Ao longo do ano, eu exibo duas obras brasileiras por bimestre que valorizam a cultura afro-brasileira. 

Assim, consigo tratar o tema de forma transversal, conectando com os conteúdos da disciplina e mostrando para os alunos que essa história é parte da nossa identidade, e não um “complemento”.

Esse planejamento contínuo tem mudado a forma como os alunos se envolvem com o tema. Eles passam a reconhecer as contribuições negras em diferentes áreas, questionam estereótipos e começam a entender melhor o Brasil que vivem.

Se você também quer começar esse trabalho, aqui vão algumas sugestões que eu uso com turmas de 8º e 9º ano. São filmes, músicas e outras linguagens que dialogam com a vivência dos alunos e ajudam muito na construção do conhecimento:

Filmes e curtas brasileiros (com classificação livre ou até 14 anos):

  • A Cor do Trabalho (curta-metragem do Canal Futura)
  • Meu Nome é Daniel (documentário pessoal com forte identidade)
  • O Dia de Jerusa (filme sensível sobre memória e ancestralidade)
  • O Pequeno Príncipe Preto (teatro filmado com estética afrocentrada)
  • Orí (documentário sobre identidade e resistência negra)

Músicas que uso em análise de letra e contexto histórico:

  • Identidade – Jorge Aragão
  • A Carne – Elza Soares
  • Negro Drama – Racionais MC's
  • Afrosambas – Baden Powell e Vinicius de Moraes
  • Retrato Falado – Leci Brandão

Obras literárias que podem ser trabalhadas por trechos:

  • Quarto de Despejo – Carolina Maria de Jesus
  • Pequeno Manual Antirracista – Djamila Ribeiro (trechos adaptados)
  • Um Defeito de Cor – Ana Maria Gonçalves (uso trechos narrativos, com mediação)
  • Cadernos Negros – Coletânea de contos e poesias (versões juvenis)
  • Menina Bonita do Laço de Fita – Ana Maria Machado (introdução ao tema desde a infância)

Esse é um caminho possível. Comece com o que você tem e vá adaptando ao seu estilo. O importante é manter a intencionalidade e entender que esse conteúdo precisa estar vivo na rotina da escola — e não preso a uma data no calendário.

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BNCC e cultura afro-brasileira: quais habilidades se conectam ao tema?

Quando comecei a planejar minhas aulas com base na Lei 10.639/03, uma das maiores dúvidas era: como justificar esse conteúdo dentro das habilidades da BNCC? E mais do que isso — como garantir que as atividades propostas não fossem apenas complementares, mas parte estruturante do currículo?

A primeira coisa que eu aprendi é que o tema da cultura afro-brasileira não pertence somente à História. Ele pode (e deve) ser abordado em diferentes componentes, como Geografia, Língua Portuguesa, Artes, Sociologia e Filosofia. 

Isso permite uma abordagem interdisciplinar, conectando saberes e promovendo um ensino mais contextualizado.

A própria BNCC, em suas competências gerais, já aponta para essa necessidade. Duas delas merecem destaque aqui:

  • Competência Geral 5 – Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais, promovendo o respeito mútuo e o combate ao preconceito.
  • Competência Geral 9 – Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação.

No campo das competências específicas e habilidades por série, é possível encontrar vários pontos de conexão direta com o tema. Abaixo, listo uma sugestão de habilidade por segmento que pode ser usada como ponto de partida para seu planejamento:

  • 6º ano (EF06HI08) – Reconhecer as contribuições das culturas africanas e afro-brasileiras na formação da sociedade brasileira.
  • 7º ano (EF07AR08) – Investigar e valorizar as manifestações culturais de origem africana presentes nas linguagens artísticas.
  • 8º ano (EF08LP12) – Analisar e interpretar produções textuais que expressem a diversidade étnico-racial brasileira.
  • 9º ano (EF09GE07) – Discutir as desigualdades sociais e raciais no Brasil contemporâneo a partir de dados e mapas temáticos.
  • 1ª série do EM (EM13CHS102) – Analisar os processos de construção das identidades culturais, considerando o papel dos diferentes grupos sociais, incluindo os afrodescendentes.
  • 2ª série do EM (EM13CHS205) – Identificar formas de resistência cultural e social dos afrodescendentes na história do Brasil.
  • 3ª série do EM (EM13LP23) – Produzir textos argumentativos sobre temas sociais, como racismo e preconceito, com base em diferentes fontes.

Essas habilidades mostram que o trabalho com a cultura afro-brasileira vai além do cumprimento de uma lei. Ele está inserido nas diretrizes que estruturam o ensino nacional e precisa estar presente em nosso planejamento de forma contínua, crítica e respeitosa.

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Como transformar o tema em objetivos de aula claros e viáveis?

Durante muito tempo, eu me sentia perdida ao tentar transformar a Lei 10.639/03 em um objetivo de aula claro. 

Eu sabia que precisava abordar o tema da cultura afro-brasileira, mas as ideias pareciam vagas demais ou genéricas demais. Foi quando comecei a encarar o planejamento de outra forma: partindo dos interesses da turma, das habilidades da BNCC e dos recursos reais que eu tinha na escola.

Uma estratégia que passei a usar foi pensar primeiro no que eu queria que o aluno fizesse ou compreendesse ao final da aula. Objetivos assim me davam mais segurança para montar as atividades e, principalmente, para avaliar se o conteúdo tinha sido de fato aprendido.

Veja alguns exemplos que funcionaram bem comigo:

Para alunos do 6º ao 7º ano:

Objetivo: Reconhecer elementos da cultura afro-brasileira presentes no cotidiano dos alunos (como culinária, linguagem, dança e música).

Como aplico: Uso imagens, vídeos e atividades de identificação no ambiente escolar e familiar.

Para o 8º e 9º ano:

Objetivo: Analisar criticamente representações da população negra nos meios de comunicação.

Como aplico: Levo manchetes, comerciais e trechos de novelas para discussão em roda de conversa ou produção de texto opinativo.

Ensino Médio:

Objetivo: Discutir a formação da identidade afro-brasileira e os mecanismos de resistência histórica.

Como aplico: Leitura de trechos de autores como Abdias Nascimento e Lélia Gonzalez, seguidos de debates e produção de podcasts com os alunos.

Um ponto importante que aprendi com os erros do passado: é preciso fugir das abordagens estereotipadas. Não basta trabalhar danças, roupas e culinária sem discutir contexto, significado e resistência. Já vi atividades que, na tentativa de valorizar, acabaram reforçando clichês.

Hoje, ao planejar, eu sempre me pergunto: O que essa aula comunica sobre a cultura afro-brasileira? Está humanizando? Está gerando reflexão ou apenas cumprindo tabela? Esse filtro me ajuda a não cair em práticas vazias, mesmo quando o tempo é curto ou os recursos são limitados.

Atividades práticas no planejamento de aula sobre cultura afro-brasileira

Ao planejar esse tipo de conteúdo, uma das minhas maiores dúvidas sempre foi: como transformar temas tão densos em experiências reais, acessíveis e significativas para os alunos? Eu não queria cair no “folclore” ou tratar a cultura afro-brasileira só com elementos festivos. 

Mas também percebi que ignorar manifestações como danças, culinária e religiosidade seria negar parte fundamental da história e da identidade do nosso povo.

Por isso, comecei a integrar práticas culturais com leitura crítica. Um exemplo que deu muito certo foi uma atividade em que os alunos pesquisaram pratos típicos da culinária brasileira com origem africana — como acarajé, vatapá ou feijão tropeiro — e fizeram uma exposição gastronômica. 

A proposta ia além da receita: discutimos as origens, o significado dos ingredientes e como esses saberes chegaram até nós.

Outra atividade muito rica foi trazer apresentações de danças afro-brasileiras, como maracatu, jongo e afoxé. Usei vídeos curtos para introduzir os ritmos, e depois promovemos uma roda de conversa para refletir sobre a função social da dança e o preconceito que ainda existe contra essas expressões.

Sobre as religiões de matriz africana, foi essencial trabalhar o conceito de respeito e liberdade religiosa. 

Com textos acessíveis e vídeos explicativos, meus alunos puderam compreender a lógica dessas religiões — sem julgamentos — e refletir sobre como o preconceito religioso ainda é naturalizado em muitas falas do cotidiano. Essa aula sempre gera muita troca e abre espaço para um diálogo necessário.

Essas atividades ganham ainda mais força quando conectadas a outras disciplinas. Em História, por exemplo, é possível estudar os processos de resistência durante a escravidão. Em Artes, trabalhar a estética afro-brasileira. 

Em Português, ler poesias de autores negros ou analisar letras de música. E na Geografia, discutir a diáspora africana e sua relação com o território brasileiro.

O mais importante é lembrar: o ensino da cultura afro-brasileira não precisa de eventos grandiosos. Ele precisa de intencionalidade, respeito e continuidade. Com poucos recursos, mas com um bom roteiro e abertura para o diálogo, é possível provocar reflexões profundas.

Como avaliar o aprendizado em aulas sobre Africanidade

Sempre que trabalho temas como a cultura afro-brasileira, fico atenta para que a avaliação não se resuma a uma atividade final ou a uma prova pontual. 

O mais importante, nesse caso, é acompanhar o processo. E foi isso que aprendi na prática: quando a proposta é reflexiva, a avaliação também precisa ser.

A abordagem mais eficaz tem sido a avaliação formativa e contínua — aquela que observa as atitudes, o envolvimento, a participação e a capacidade do aluno de articular o conteúdo com sua realidade. Para mim, é nessa escuta ativa e no olhar cotidiano que conseguimos perceber se o objetivo está sendo alcançado.

Gosto de observar, por exemplo, se os alunos conseguem reconhecer e respeitar a diversidade cultural do Brasil, se fazem conexões entre o conteúdo e o seu próprio cotidiano e, principalmente, se demonstram sensibilidade e empatia nas discussões. Esses são indicadores reais de aprendizagem significativa, ainda que não apareçam em testes objetivos.

Para registrar esse processo, uso instrumentos simples e eficazes:

  • Diários de bordo: um espaço para que os alunos escrevam percepções e aprendizados ao longo das aulas.
  • Rodas de conversa: fundamentais para avaliar o repertório construído e a capacidade de argumentação.
  • Autoavaliações guiadas**: com perguntas como “O que aprendi sobre a cultura afro-brasileira?”, “O que mais me chamou atenção?” ou “O que preciso pesquisar mais?”.
  • Portfólios com registros de produções (textos, desenhos, relatos, pesquisas) ao longo da sequência de aulas.

A avaliação nesse tipo de trabalho não tem como foco o acerto, mas sim o envolvimento, o respeito às diferenças, o desenvolvimento do senso crítico. E, para isso, a escuta e a observação do professor fazem toda a diferença.

Conclusão: ensinar com consciência é um ato de transformação

Planejar aulas sobre cultura afro-brasileira não é apenas cumprir uma exigência legal. É reconhecer a diversidade do nosso país, ampliar o repertório dos alunos e formar cidadãos mais conscientes e críticos.

Mas isso exige compromisso e sensibilidade — além de tempo, pesquisa e organização.

Por isso, minha dica final é simples: comece com o que você tem. Use as referências disponíveis, escute seus alunos, vá ajustando sua prática com base no que funciona. Não espere tudo estar perfeito para colocar a mão na massa.

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